Ouvir e não dizer nada

Ao ouvir a história da vida da Boa Nova, comecei a formular mentalmente todas aquelas perguntas que começam por «e porque não…», e às quais se segue a descrição daquilo que ― em nosso entender  ―  se devia fazer em situações como aquela. Já os meus lábios começavam a tomar posição para articular um desses impertinentes «e porque não», quando mordi a língua.

É precisamente isto que fazem as revistas a cores, e eu queria por instantes imitar uma delas: dizem-nos o que não fizemos, onde falhámos, o que negligenciámos, e, por fim, amarguram-nos a ponto de nos desprezarmos a nós próprios.

Eu não disse nada. Histórias de vida não são tema para discussão. Devemos ouvi-las com atenção e retribuir da mesma maneira. Foi por isso que, em tempos, contei à Boa Nova a história da minha vida, e a convidei para minha casa a fim de conhecer as minhas Meninas. E assim aconteceu.

Olga Tokarczuk, Conduz o Teu Arado sobre os Ossos dos Mortos

Deixe um comentário